Doença de Alzheimer e outras demências

por Gabriel Behr

A doença de Alzheimer é a demência mais presente na população, acomete preferencialmente idosos e tem por característica ser progressiva e cursar com dificuldades de memória, mais especificamente esquecimento de fatos recentes.

A demência é uma doença que tem diversas causas e é caracterizada por um prejuízo envolvendo os diversos domínios da cognição, a saber:

  • Memória
  • Linguagem
  • Função Executiva
  • Atenção
  • Orientação
  • Habilidades motoras
  • Habilidades sociais

Como são classificadas as demências?

A demência (também chamada de transtorno neurocognitivo no DSM-5) pode ser classificada em:

Transtorno neurocognitivo menor: quando o paciente apresenta dificuldades cognitivas comprovadas por testes cognitivos e observadas pelo próprio paciente, pelo seu médico ou por um familiar. No transtorno menor, as dificuldades cognitivas não interferem na autonomia para realizar as atividades quotidianas.

Transtorno neurocognitivo maior: o paciente apresenta dificuldades cognitivas que interferem para a realização das atividades quotidianas.

Queixas cognitivas subjetivas: quando o paciente tem a impressão de uma dificuldade cognitiva, como por exemplo, a sensação de que sua memória não é mais a mesma. Contudo, os testes cognitivos não mostram nenhuma dificuldade. Os estudos mostram que a queixa cognitiva é extremamente prevalente nos idosos, mas apenas uma pequena parte (cerca de 14%) deste grupo vai apresentar uma demência. Geralmente, as causas mais prevalentes para este tipo de queixa são as doenças clínicas, como os problemas de tireoide, os problemas cardíacos e os problemas psiquiátricos, como a demência, a ansiedade e problemas de sono.

Qual a causa da doença de Alzheimer?

As causas da demência de Alzheimer não são completamente conhecidas ainda, mas estima-se que 60-80% dos fatores causadores são hereditários.

A doença começa a se desenvolver no cérebro dos pacientes décadas antes da manifestação dos primeiros problemas cognitivos ou de memória. As pesquisas avançam no sentido de entender as alterações das células cerebrais (que são chamados de neurônios), a neuro-inflamação e o acúmulo das proteínas beta-amilóide e tau

Quais são os sintomas do Alzheimer?

As dificuldades cognitivas, especialmente os esquecimentos, agravam-se progressivamente durante muitos anos. Classicamente, a doença afeta primeiramente a memória, gerando uma dificuldade para lembrar de fatos recentes, conversas ou repetição de perguntas. Existem alguns casos de demência de Alzheimer que acometem os outros domínios cognitivos inicialmente.

Com a evolução da doença, os pacientes apresentam dificuldades como:

  • Planejar e organizar algo
  • Pensar de forma abstrata
  • Lembrar o nome de pessoas ou objetos
  • Formar frases completas ou entendê-las
  • Focar a atenção em uma determinada tarefa
  • Orientar-se no tempo e no espaço
  • Dificuldade para lembrar-se dos fatos passados

Estes são apenas alguns exemplos dos tipos de sintomas apresentados pelos pacientes. Cada doença evolui de forma diferente em cada paciente, dependendo do seu nível de escolaridade, trabalhos realizados, hábito de ler, envolvimento com atividades artísticas, entre outros fatores.

No dia-a-dia, os pacientes apresentam dificuldades para realizar tarefas que eles estavam habituados a realizar anteriormente, como pagar contas, dirigir, cozinhar e usar o celular. O seu discurso pode parecer empobrecido e o paciente tende a restringir suas atividades e interesses

Quais são as causas mais comuns das demências?

  • Demência de Alzheimer
  • Demência vascular
  • Demência de corpos de Lewy
  • Demência fronto-temporal
  • Demência da doença de Parkinson
  • Demência secundária a um traumatismo craniano                       

Quais são as causas reversíveis das demências?

Algumas dificuldades cognitivas podem ser reversíveis com o tratamento da condição inicial que a esta causando, por exemplo:

  • Carência de vitamina B12 e folato
  • Hipotireoidismo
  • Síndroma da apneia do sono
  • Doenças clínicas descompensadas como diabetes
  • Insuficiência renal e hepática
  • Tumores cerebrais
  • Hidrocefalia de pressão normal
  • Hematomas intracranianos
  • Epilepsia

Quais são os fatores de risco modificáveis de uma demência?

  • Baixa educação
  • Hipertensão
  • Problemas auditivos
  • Obesidade
  • Consumo excessivo de álcool
  • Traumas cranianos
  • Tabagismo
  • Depressão
  • Falta de atividade física
  • Isolamento social
  • Diabetes
  • Poluição do ar

Qual a relação entre doenças psiquiátricas e as demências?

A maioria das doenças psiquiátricas são associadas a dificuldades cognitivas quando não estão tratadas, especialmente em idosos. Contudo, algumas doenças crônicas podem aumentar o risco de desenvolvimento de uma demência.

A depressão pode cursar com dificuldades cognitivas em todos os domínios cognitivos. Entretanto sabe-se que principalmente os pacientes idosos apresentam dificuldades no domínio da função executiva, que na prática é observada como uma lentificação, dificuldade para planejar e para abstrair.

Essas dificuldades podem ser reversíveis com o tratamento, contudo, o paciente que apresenta o primeiro episódio de depressão da vida na idade avançada possui um risco maior de apresentar uma demência. Para mais informações, consulte a página sobre depressão em idosos.

Sintomas neuropsiquiátricos nas demências

Uma demência em evolução pode cursar com alguns sintomas neuropsiquiátricos, como por exemplo:

  • Agressividade
  • Agitação
  • Delírios
  • Alucinações visuais e auditivas
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Euforia
  • Apatia
  • Irritabilidade
  • Desinibição
  • Deambulação
  • Problemas do sono

Avaliação das atividades de vida quotidiana

A demência pode associar-se à dificuldades para realizar as atividades quotidianas. Saber quem é o seu familiar ou cuidador mais próximo pode ser importante. As conversas com as pessoas próximas devem sempre ser autorizadas pelo paciente. Para mais informações, consulte a página sobre depressão em idosos.

Como são feitos os diagnósticos das demências?

 Quatro etapas são importantes para avaliar se um paciente tem uma demência e quais seriam as suas causas:

  1. Entrevista e exame físico: O passo inicial da avaliação é uma entrevista com o paciente e seus familiares. Nesta etapa, é importante investigar quais são as dificuldades cognitivas do paciente, quanto tempo elas estão presentes, como elas evoluíram, se é só o paciente ou se a família também notou os problemas cognitivos, o seu histórico de doenças clínicas e psiquiátricas. Neste momento, são feitas a avaliação das atividades de vida quotidiana, um exame fisico e os testes cognitivos iniciais, no consultório do médico.
  2. Exame neuropsicológico: Em alguns casos, testes cognitivos aprofundados com uma neuropsicóloga são necessários. O exame neuropsicológico é uma avaliação completa de todos os domínios da cognição, que poderá dizer ao médico se o paciente tem dificuldades cognitivas e qual domínio está afetado. Eles são importantes para ajudar no diagnóstico diferencial das diversas causas de demências e para planejar o seu tratamento.
  3. Exame de imagem do cérebro: Em alguns casos, um exame de imagem do cérebro é proposto, normalmente uma ressonância magnética ou uma tomografia. Estes exames auxiliam o médico a definir se existem lesões vasculares antigas ou novas (como por exemplo, AVCs). Também ajuda a investigar a presença de tumores, sangramentos ou atrofias (diminuições de partes do cérebro).
  4. Exames de sangue: na avaliação inicial, realizam-se exames de sangue para investigar a função da tireoide, dos rins e do fígado, mas também são medidos os níveis séricos das vitaminas B12 e folato e também são realizados alguns outros testes, para detectar doenças quem podem interferir na memória e na cognição, como por exemplo a anemia.

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(Para mais informações consulte a página Transtornos do comportamento nas demências)